Uma vez nascidos de Deus, temos que viver em Deus.

Juarez Marcondes

Pastoral 01/06/2025

jmf-307
por Rev. Juarez Marcondes Filho

Vivendo em Deus

Enquanto a visão da glória de Deus nos concede a perspectiva de Deus em seu próprio ser, a visão do Reino de Deus nos oferece a perspectiva de Deus em nosso coração. Para ver o Reino é preciso nascer de novo (João 3.3), experimentar o novo nascimento, que significa nascer de Deus. Como nascidos de Deus, obtemos a benfazeja presença do Espírito Santo habitando em nós (Efésios 1.13), a mente de Cristo dirigindo nosso pensamento (I Coríntios 2.16) e dispomos da filiação divina (Romanos 8.14), pois, pela regeneração, tornamo-nos filhos de Deus, por meio do Unigênito (João 3.16; Efésios 1.5).

Uma vez nascidos de Deus, temos que viver em Deus. Não é possível experimentar a regeneração e permanecer alimentando a alma com paixões mundanas, com desejos carnais, com ambições temporais. Tais expedientes irão sugar as forças espirituais, deixando o crente à míngua, completamente desassistido, sem o vigor para provar as maravilhas do Senhor.

Como novas criaturas, agora, podemos desfrutar de uma graça transbordante que nos assegura todos os benefícios espirituais que o Senhor tem preparado para o seu povo. Se acham à nossa disposição

“todas as coisas que conduzem à vida e à piedade” (II Pedro 1.3). Ninguém poderá alegar insuficiência de recursos para gozar as bem-aventuranças celestiais. “As preciosas e mui grandes promessas” nos foram de antemão doadas (II Pedro 1.4).

Temos à nossa disposição não só a presença do Senhor que anima, consola e estimula, também, contamos com sua própria natureza que se vinculou à nossa natureza humana. Fomos feitos “coparticipantes da natureza divina” (II Pedro 1.4). Quando Nicodemos considerou que seria necessário voltar ao ventre de sua mãe para nascer de novo, revelando dificuldade em compreender o Reino de Deus, é que, mesmo sendo um teólogo respeitável, ele só dispunha da natureza humana, não participando da natureza divina.

Podemos viver em Deus porque já nascemos de Deus, e porque nascemos de Deus, necessariamente precisamos viver em Deus. O crente recém-convertido reconhece isto como vital, compreende que sem a ajuda do Senhor não conseguirá andar nos caminhos do Senhor; este mesmo crente possui a sensibilidade espiritual que o leva a uma vida de contrição, revelando arrependimento de seus pecados e busca do perdão e purificação pelos méritos de Cristo.

O que sucede com este crente na medida em que vai crescendo espiritualmente, chegou a uma maturidade espiritual tamanha que pode dispensar as atenções do Espírito Santo em sua vida? Pode assumir as rédeas de seu desenvolvimento nas coisas atinentes ao Reino Deus? Tem condições de prosseguir sozinho sem buscar a face do Senhor?

Com certeza, a resposta a todas estas perguntas só pode ser um retumbante “não”. No entanto, percebemos um retrocesso patrocinado por autoconfiança.

No início da caminhada de fé, o crente tem uma nítida percepção de que só pode viver em Deus, nas coisas de Deus, em total dependência do Senhor. Mas, na medida do correr dos anos, se enche de sua própria experiência espiritual, que passa a viver em si mesmo, de si mesmo, de sua história, não recorrendo ao Senhor.

O Rei Salomão amava ao Senhor (I Reis 3.3), pediu unicamente que Deus lhe desse sabedoria para governar a nação, dispensando outros interesses (I Reis 3.9); a oração que este servo de Deus proferiu por ocasião da dedicação do Templo do Senhor é simplesmente magistral (I Reis 8.23-53). Todos estes aspectos demonstram o caráter de alguém que estava vivendo em Deus.

No entanto, em algum estágio de sua história ele deixou de viver em Deus, para viver de sua própria biografia, de suas conquistas, do reconhecimento de que foi objeto por parte de pessoas gradas, e sua derrocada foi fatal, incluindo a prática de grave idolatria (I Reis 11.2), associada a casamentos que se somaram às centenas (I Reis 11.3).

Em momento algum de nossa jornada em Cristo podemos abandonar a provisão que procede do coração de Deus, garantindo-nos o viver em Deus. A verdadeira maturidade cristã consiste em dia a dia estar se fortalecendo do coração de Deus que se inclina para conosco.